Excerto de "A Rainha de Copas" de Matt Ridley


As causas da homossexualidade masculina

Um homem desenvolve uma preferência sexual pelas mulheres porque o seu cérebro se desenvolve de uma determinada maneira. E desenvolve-se de uma determinada maneira porque a testosterona produzida pelos seus testículos geneticamente determinados altera de tal modo o cérebro dentro do útero da mãe que mais tarde, na puberdade, irá reagir novamente à testosterona. Se perder os genes para os testículos, o surto de testosterona no útero ou o surto de testosterona na puberdade --- qualquer um dos três ---, não será um homem típico. Presumivelmente, um homem que desenvolve uma preferência por outros homens é aquele que tem um gene diferente que afecta o modo como os seus testículos se desenvolvem, ou um gene diferente que afecta o modo como o seu cérebro responde às hormonas, ou uma experiência de aprendizagem diferente durante o surto de testosterona durante a puberdade --- ou uma combinação destes factores.
A busca da causa da homossexualidade começou a derramar alguma luz sobre o modo como o cérebro se desenvolve em resposta à testosterona. Até aos anos 60 estava na moda acreditar que a homossexualidade era inteiramente um assunto de educação. Mas a cruel terapia de aversão freudiana provou ser incapaz de a alterar e depois a moda mudou para explicações hormonais. No entanto, adicionar hormonas masculinas ao sangue dos homens homossexuais não os torna mais heterossexuais, apenas os torna mais sexuados. A orientação sexual já está fixa antes da idade adulta. Depois, nos anos 70, um médico da Alemanha de Leste, chamado Gunter Dörner, iniciou uma série de experiências com ratos que pareciam mostrar que no útero o cérebro do macho homossexual liberta uma hormona mais típica dos cérebros femininos, chamada hormona luteinizante. Dörner, cujos motivos foram questionados frequentemente com base em que parecia procurar uma maneira de “curar” a homossexualidade, castrou ratos machos em diferentes fases de desenvolvimento e injectou-lhes hormonas femininas. Quanto mais cedo ocorresse a castração, mais provável era que o rato solicitasse sexo a outros machos. Investigações realizadas na Grã-Bretanha, nos Estados Unidos e na Alemanha confirmaram que uma exposição pré-natal a uma deficiência de testosterona aumenta a probabilidade de um homem se tornar homossexual. Os homens com um cromossoma X extra e os expostos a hormonas femininas no útero têm uma probabilidade maior de serem homossexuais ou efeminados e os rapazes aefeminados tornam-se de facto homens homossexuais mais frequentemente do que os outros rapazes. Intrigantemente, os homens que foram concebidos e nasceram em períodos de grande stress, como no final da segunda guerra mundial na Alemanha, são mais frequentemente homossexuais do que os homens nascidos noutras alturas. (O cortisol, a hormona do stress, é produzido a partir do mesmo percursorque a testosterona; talvez gaste a matéria-prima, deixando menos para se transformar em testosterona.) O mesmo se aplica aos ratos: o comportamento homossexual é mais comum em ratos cujas mães estiverem sob os efeitos de stress durante a gravidez. Nas coisas em que , de um modo geral, o cérebro masculino é bom é frequentemente pior o cérebro dos homossexuais, e vice-versa. Os homossexuais são canhotos mais frequentemente do que os heterossexuais, o que faz mais ou menos sentido, porque o facto de ser canhoto ou dextro é afectado por hormonas sexuais durante o desenvolvimento, mas também é estranho, porque, supostamente, os canhotos são melhores nas tarefas espaciais do que as pessoas dextras. Isto demonstra apenas quanto ainda é escasso o nosso conhecimento sobre a relação entre genes, hormonas, cérebros e capacidades.
Contudo, é claro que a causa da homossexualidade reside em algum equilíbrio invulgar da influência hormonal no útero, mas não mais tarde, um facto que apoia ainda mais a ideia de que a mentalidade da preferência sexual é afectada pelas hormonas pré-natais. Isto não é incompatível com a evidência crescente de que a homossexualidade é determinada geneticamente. Espera-se em grande medida que o «gene homossexual», que irei discutir no próximo capítulo, seja na realidade uma série de genes que afectam a sensibilidade de certos tecidos à testosterona. São genes e ambiente ao mesmo tempo.
Não é diferente do que acontece com os genes para a altura. Dois homens geneticamente diferentes alimentados com dietas iguais não terão a mesma altura. Dois gémeos idênticos alimentados com dietas diferentes terão alturas diferentes. Os genes são um dos lados do rectângulo, sendo o ambiente o outro. Os genes para a altura na realidade são apenas genes para responderem à dieta através do crescimento.

Casamentos homossexuais | Universidade do Minho | Instituto de Ciências Socias | Ciências da Comunicação | Braga, 2009